Etimologicamente derivada de chronos – tempo -, a crónica confundiu-se com a historiografia até ao século XIX, quando a expansão da imprensa e do jornalismo a reinventam e a fazem renascer com a feição que hoje lhe conhecemos.
Ao afirmar que a “crónica é como que a conversa íntima, indolente, desleixada, do jornal com os que o leem”, Eça de Queirós cunha, no Distrito d’ Évora (1867), uma das primeiras definições da crónica moderna. Antes, Machado de Assis (1859) atribuíra ao folhetinista, o antecessor imediato do cronista moderno, a capacidade da “fusão admirável do útil e do fútil”.
Contemporaneamente, o termo “crónica” parece ser um termo guarda-chuva, que recobre uma panóplia de curtos textos de autor, cuja divulgação é feita através dos media, mas cujos objetivos e funções são muito diversas. Assim, a crónica é opinião e argumentação; é comentário da atualidade; é esclarecimento; é divertimento; é relato; é exercício literário; é experimentação artística; é séria; é divertida; informa; ensina; convence; é esquecida; é lembrada.
Não admira que, face à plasticidade que manifesta, a crónica continue a ser um problema para os seus cultores. Manuel António Pina, por exemplo, numa das suas crónicas interroga-se: “E o que é isto de crónicas? Se me perguntam (…) não sei o que é, se me não me perguntam, sei”. António Lobo Antunes chama-lhes “prosinhas”, “literatura alimentar”, lamentando que a escrita da crónica lhe roube tempo da escrita do livro, essa tarefa maior do escritor.
Também no espaço lusófono se acumulam exemplos de cronistas consagrados. Machado de Assis, Clarice Lispector, Rubem Braga, Luís Fernando Veríssimo, no Brasil; José Eduardo Agualusa em Angola; Mia Couto em Moçambique são apenas alguns dos nomes que podem ser apresentados como exemplo de cronistas.
A notoriedade da forma, atestada pela sua prevalência nos media tradicionais, pela migração da forma para plataformas online, a par da fortuna que goza no mercado editorial, parece ir ao encontro de uma nova máxima popular: a lusofonia é uma nação de cronistas.
Assim, o CICLC 2021 convida à participação de estudiosos de campos diversificados, interessados no estudo da crónica, nas suas diversas facetas e usos. As propostas poderão contemplar os seguintes tópicos, entre outros:
- Crónica na imprensa, rádio, televisão e nos meios digitais
- Crónica, opinião e política
- Crónica, divulgação e crítica cultural
- Crónica e crítica
- Crónica e formação de públicos
- Escritores cronistas e cronistas escritores
- Crónica e suas relações com outros géneros literários
- Crónica e viagens
- Crónica, ilustração e fotografia
- Crónica e humor
- Linguagem da/ na crónica
- Crónica como género textual
Cada proposta deverá incluir:
- Título
- nome(s) do(s) autor(es)
- afiliação
- linha temática em que se inscreve
- 3-5 palavras-chave
- resumo entre 200-300 palavras
Cada proponente poderá apresentar uma proposta individual e uma em coautoria, ou duas propostas em coautoria. O tempo previsto para cada apresentação é de 20 minutos.
Línguas: Português | Inglês
Submissão de propostas: 2020.CICLC@gmail.com
E-mail de contacto: 2020.CICLC@gmail.com